quinta-feira, 15 de março de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 14/09/95 - Flamengo 3 x 2 Vélez Sarsfield




Jogos Inesquecíveis: 14/09/1995 - Flamengo 3 x 2 Vélez Sarsfield

"Ainda assim, no segundo semestre do ano do Centenário, apesar de uma campanha ruim no Campeonato Brasileiro, o Flamengo quase levantou um troféu de bastante expressão, o da Supercopa dos Campeões da Libertadores. O Flamengo fez uma campanha linda, mas viu o título escapar na final, com um Maracanã absolutamente lotado! Não perdeu nem empatou sequer um jogo nas fases eliminatórias. Já na estreia, uma vitória inesquecível sobre o então detentor dos títulos de campeão argentino e campeão da Taça Libertadores da América, ocorrida dentro de Buenos Aires, e da forma heroica. O time perdia por 2 a 1 para o Velez Sarsfield, do lendário goleiro-artilheiro paraguaio Jose Luiz Chilavert, até os 44 minutos do segundo tempo, quando Sávio empatou o jogo. Ainda houve tempo para a virada, que veio aos 46 minutos, com gol de Rodrigo Mendes. Eram as estreias do Flamengo na Supercopa de 1995 e do radialista Washington Rodrigues, o Apolinho, como técnico do Flamengo, em substituição a Edinho.


Foi a arrancada de uma campanha linda, em que o Flamengo eliminou Velez Sarsfield, Nacional de Montevidéu e Cruzeiro sem sequer empatar; venceu todas as partidas, em casa e fora. Contra o Velez, foi 3 a 2 em Buenos Aires e 3 a 0 no Brasil (partida que terminou em pancadaria generalizada e que, no ano do Centenário, foi a centésima vitória rubronegra sobre adversários sul-americanos em sua história). Depois veio o Nacional: 1 a 0 no Uruguai e 1 a 0 no Brasil. Contra o Cruzeiro, deu 1 a 0 no Mineirão e 3 a 1 no Maracanã. O vermelho e o preto chegaram à final contra o Independiente, da Argentina, que detinha o título da competição e lutava pelo bicampeonato. Um clube com muitíssimas tradições em nível sul-americano, pois já detinha sete vitórias na Libertadores, sendo o recordista de títulos no continente. O Flamengo perdeu o primeiro jogo da final por 2 a 0 no estádio de Avellaneda, em Buenos Aires. Venceu o segundo só por 1 a 0 no Maracanã, e, assim, ficou sem o título pelo saldo de gols". (A NAÇÃO, pg. 178-179)

Washington Rodrigues com Romário e Sávio

Ficha Técnica
14/09/1995 – Flamengo 3 x 2 Vélez Sarsfield
Local: Estádio José Amalfitani, Buenos Aires, Argentina
Gols: Trotta (24'1T), Edmundo (27'1T), Herrera (37'1T), Sávio (44'2T) e Rodrigo Mendes (45+1'2T) 
Fla: Paulo César, Agnaldo Liz, Cláudio, Ronaldão e Lira; Márcio Costa, Pingo, Djair (Rodrigo Mendes) e Nélio; Edmundo e Sávio.
Téc: Washington Rodrigues
Vélez: José Luis Chilavert, Flavio Zandoná, Roberto Trotta, Mauricio Pellegrino e Raul Cardozo (Fabián Fernández); José Basualdo, Carlos Compagnucci, Christian Bassedas (José Luis Sánchez) e Ricardo Rentera (Marcelo Herrera); Omar Asad e José Oscar "Turu" Flores.
Téc: Carlos Bianchi



A História do Jogo

O Flamengo estava comemorando o ano do centenário de sua fundação, e, apesar das grandes contratações, entre elas Romário e Edmundo, que formavam com Sávio o "melhor ataque do mundo", o rendimento do time estava bem abaixo do esperado. Dois treinadores já tinham passado pelo clube naquela temporada: Vanderlei Luxemburgo e Edinho. Chegando na metade final da temporada, o presidente do clube, Kléber Leite, teve a ideia de convidar a Washington Rodrigues para assumir o cargo.

"Eu estava jantando e o Kléber Leite me convidou para encontrá-lo em um restaurante. Imaginei que queria conselhos sobre o momento do time e fui preparado para sugerir a contratação do Telê Santana. Ninguém queria pegar o Flamengo. O papo varou a madrugada. Até que por volta das 3:30h havia um prato virado na mesa e sem uso. O Kléber me disse que tinha um nome e pediu para que virasse o prato. Quando vi que era o meu nome que estava escrito num papel embaixo do prato, tomei um susto e perguntei se ele estava brincando. Não estava. Pensei rápido e aceitei, já que o Flamengo é uma convocação. Foi uma correria. Tinha que me desligar da rádio, TV, jornal. Tudo para evitar conflitos de interesse", explicou Apolinho.

Sua estreia foi com uma vitória histórica, um 3 a 2 contra o Vélez Sarsfield na Argentina. Ele até que não fez feio, conseguiu livrar o Flamengo da zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro e ainda levou o time até a decisão da Supercopa da Libertadores, onde perdeu o caneco para o Independiente. A equipe viajou para a Argentina desfalcada de Romário, que no último treino antes do embarque sofreu um desmaio no campo da Gávea. E foi sem seu principal jogador em campo, que o time rubro-negro obteve uma vitória grandiosa e maiúscula, com uma virada espetacular nos minutos finais de jogo.

Na lembrança de Sávio: "Lembro do 3 a 2 de 1995, dentro do estádio do Vélez. Esse foi realmente um jogão, com alternância no placar. Teve um momento em que eu dei uma arrancada pela direita e consegui cruzar. O Edmundo cabeceou, o Chilavert defendeu e o Lira sofreu o pênalti. Eu bati e fiz o gol. Foi o 2 a 2. Aí o Rodrigo Mendes, no final do jogo, fez o 3 a 2. Aquele jogo foi muito marcante. Aquela competição foi uma pena, porque disputamos oito jogos e vencemos sete. No primeiro jogo da final contra o Independiente perdemos por 2 a 0. No Maracanã vencemos por 1 a 0 e não conseguimos inverter o resultado. Foi uma competição muito boa".

Assim o Jornal Folha de São Paulo em 21 de setembro de 1995, sob o título "'Pedagogia do malandro' anima Fla", referiu-se ao intrépido começo de caminhada após inusitada estreia do radialista Apolinho no comando técnico do time rubro-negro, naquele duelo válido pela Supercopa dos Campeões da Libertadores, fora de casa, na Argentina, justamente contra um time que pouco antes havia se sagrado Campeão da Copa Libertadores. A estreia havia ocorrido uma semana antes, e assim descrevia a Folha: "o técnico do Flamengo, Washington Rodrigues, dirige hoje pela primeira vez a equipe com os jogadores que considera seus "três tenores" - Romário, Sávio e Edmundo - juntos no ataque frente ao Grêmio no Estádio da Ressacada, em Florianópolis, em jogo válido pelo Grupo A do Campeonato Brasileiro.

Washington trocou o posto de comentarista da Rádio Globo, onde era parte do programa esportivo mais ouvido do Rio de Janeiro para, aos 59 anos, dirigir pela primeira vez na vida um time de futebol. Transformou-se em fenômeno por dois motivos: manteve como técnico o estilo coloquial do rádio e conseguiu, na estreia, vencer ao Vélez Sarsfield, em Buenos Aires, por 3 a 2. O time saiu na frente, tomou a virada, e conseguiu uma virada heroica nos minutos finais do segundo tempo. Foi uma vitória de epopeia.

Dois dias antes do jogo, ele disse aos jogadores: "a partir de agora, ninguém escova dentes, se penteia ou faz a barba. Vamos assustar os caras na entrada em campo". No vestiário, ordenou aos atletas: "Quando o adversário estender a mão e desejar boa sorte, vocês não os cumprimentem e digam: "boa sorte é o caralho".

Para explicar a ordenação tática que quer em campo, o novo técnico dispensa grandes elucubrações teóricas com os jogadores. Ele falou para os meias defensivos e zagueiros: "Vocês são a minha Swat. Nenhum adversário vai passar pela tropa de choque". Falando a "língua" dos jogadores, Washington vai conseguindo o que quer. É a "pedagogia do malandro".

Nascido no Engenho Novo (subúrbio do Rio), ele simplifica: "Sou carioca, é o meu jeito".
As frases de efeito e bem-humoradas foram os principais trunfos da ascensão de Washington no rádio, onde é mais conhecido pelo apelido "Apolinho". Foram 19 anos como repórter de futebol e 15 como comentarista. Ele assumiu a equipe e nos três dias seguintes, devido à ansiedade, perdeu 5 kg dos 110 kg que o médico considerava excessivos.

Washington Rodrigues não é uma unanimidade. Sua indicação foi recebida com ataques. "Ele deveria estudar antes", disse Sebastião Lazaroni, treinador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 90. O Sindicato dos Treinadores do Rio protestou. A lei determina que só pode ser técnico quem fez curso promovido pelas federações de futebol. Sem diploma, Washington assina a súmula para ficar no banco de reservas como dirigente. Por isso, no Brasil, não chega à beira do campo. Quem faz isso é o treinador de goleiros, Paulo César, que, no documento oficial, é o técnico da equipe.

Apesar da grandeza da vitória rubro-negra sobre o Vélez na primeira partida do Apolinho como técnico rubro-negro, o confronto Flamengo e Vélez Sarsfield na Supercopa de 1995 ficou muito mais marcado na história pelo jogo de volta, no Brasil, disputado no Parque do Sabiá, em Uberlândia, e que terminou com uma pancadaria generalizada entre os jogadores da duas equipes depois que o Flamengo já vencia por 3 a 0. Edmundo acertou um tapa na cara do zagueiro argentino Zandona, deu as costas e tomou um murro de mão fechado. Ele foi vingado por Romário, que acertou uma voadora no peito do zagueiro Zandona, jogando-o ao chão. Seguiu-se uma briga generalizada entre todos os jogadores, titulares e reservas. Mas para quem gosta de futebol e não de luta, foi na Argentina, no primeiro jogo, no Estádio Jose Amalfitani, que o que se viu em campo foi grandioso e histórico.


Nenhum comentário:

Postar um comentário