segunda-feira, 2 de abril de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 03/03/68 - Flamengo 5 x 1 Cruzeiro




Jogos Inesquecíveis: 
03/03/1968 - Flamengo 5 x 1 Cruzeiro

Uma espetacular goleada para cima do Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes e Natal. Este amistoso no Maracanã, de certa forma, vingou a goleada sofrida dois anos e um mês antes, em 1966, por 6 a 2 no Mineirão, também em partida amistosa. Foi uma tarde de um time rubro-negro inspiradíssimo, no reencontro de Silva com o Maracanã, depois de um ano fora do clube, em passagens não muito inspiradas pelo Barcelona da Espanha, e pelo Santos.



Ficha Técnica
03/03/1968 - Flamengo 5 x 1 Cruzeiro
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 86.276 pagantes)
Gols: Silva (26'1T), César Lemos (38'1T), Silva (42'1T), Luís Carlos (10'2T) e (20'2T), e Natal (28'2T)
Fla: Marco Aurélio (Ubirajara Alcântara), Marcos (Rodrigues Neto), Guilherme, Onça e Paulo Henrique; Carlinhos (Cardosinho) e Liminha; Luís Carlos, César Lemos, Silva (Almir Pernambuquinho) e Néviton.
Téc: Aymoré Moreira
Cruzeiro: Raul, Pedro Paulo, Vicente, Procópio Cardoso e Neco; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal (Wilson Almeida), Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.
Téc: Orlando Fantoni



A História do Jogo

Num período no qual o futebol brasileiro era dominado pelo Santos de Gilmar, Dorval, Pelé e Pepe, pelo Botafogo de Leônidas, Gérson, Jairzinho e Paulo Cesar Caju, e pelo Palmeiras de Djalma Santos, Baldochi, Dudu e Ademir da Guia, emergia em Belo Horizonte um timaço do Cruzeiro, de Raul Plassmann, Wilson Piazza, Dirceu Lopes, Natal e Tostão. O Flamengo vinha de um ano terrível e a ideia era reconstruir o elenco para formar um grande time. A principal aposta para a temporada era a recontratação do ídolo da torcida Silva, esperando que ele formasse uma bela dupla de frente com o centroavante César Lemos, o César Maluco, que voltava de um ano de empréstimo ao Palmeiras, onde tinha conseguido grande projeção e destaque.

No início da temporada, foi marcado um amistoso no Maracanã contra o badalado time cruzeirense, que em 1966, na final da Taça Brasil, havia vencido ao Santos no Mineirão por 6 a 2 e, no jogo de volta, ratificado sua supremacia em pleno Pacaembu, onde venceu por 3 a 2, conquistando o título da competição mata-mata entre os campeões estaduais.

Foi um grande jogo de futebol, num Maracanã, que embora recebesse um amistoso, ficou lotado para celebrar a reestreia de Silva em vermelho e preto. Como destacou o Jornal Correio da Manhã: "o rubro-negro apresentaria suas novas estrelas, e entregaria as faixas de tricampeão estadual aos mineiros. Alguns jogadores voltavam ao Mais Querido, como Silva, que voltava depois de jogar no Barcelona e Santos, e César "Maluco", irmão de Luisinho Tombo e Caio Cambalhota, após período emprestado ao Palmeiras. Com essa dupla de atacantes, Almir "Pernambuquinho" ficou no banco". O elenco rubro-negro ainda tinha a Carlinhos, o Violino, ao zagueiro Onça, o lateral-direito Murilo "Pardal", Fio, Rodrigues Neto, Paulo Henrique, e Liminha, todos estes remanescentes do ano anterior.

Assim narrou aos acontecimentos o Jornal dos Sports do dia seguinte: O Flamengo lavou a alma dos seus torcedores com uma exibição de gala que só poderia mesmo terminar em goleada. Quando, depois do jogo, os mineiros declaravam não se recordar de uma contagem tão alta - 5 x 1 - nos últimos quatro anos, reproduziam em termos exatos o que foi a partida que marcou a volta do futebol ao Rio de Janeiro e a apresentação do novo Flamengo: um banho de bola e de gols. Esteve impecável o Flamengo, apesar da ausência de dois titulares importantes, como Murilo e Manicera. Armou um esquema cauteloso para enfrentar ao conhecido tripé do Cruzeiro formado por Tostão, Dirceu Lopes e Zé Carlos, bloqueando-a da linha média para trás. E, com o alívio da zaga, protegida por Carlinhos no primeiro combate, abriu campo para os rápidos contra-golpes de Silva e César pelo centro, onde encontravam ainda o apoio veloz de Liminha.

A impressão era de domínio completo do Cruzeiro que, de fato, controlava boa parte do campo. Mas cada avanço seu era um triunfo rubro-negro, pela abertura de espaços na zona defensiva. Neles os arranques de Silva eram irresistíveis. Ao marcar o primeiro gol, numa virada impressionante de pé esquerdo, Silva como que previu os mineiros para o perigo da goleada. O Cruzeiro, entretanto, não acreditou. Quis empatar e vencer na academia dos passes curtos entre Tostão, Dirceu e Evaldo, com o erro suplementar de usar seus pontas apenas para cruzamentos. Vieram mais dois gols e, aí então, o Cruzeiro se assustou. No segundo tempo, o Flamengo liquidou o jogo com pontadas de raro efeito. O novo Flamengo mostrava que estava forte, porque vencer um time da categoria daquele Cruzeiro por 5 a 1, é façanha que não se consegue por acaso.

Logo aos seis minutos, um passe de Natal cortou a boca do gol, a um passo dos pés de Evaldo e Tostão, que furaram. Dois minutos depois, Evaldo deu curto a Dirceu Lopes, que emendou da entrada da área, Marco Aurélio espalmou, e no rebote Evaldo, desequilibrado, deu um bico por cima do gol. Eram dez minutos quando ocorreu o primeiro sintoma da preparação de jogo do Flamengo, no sentido dos ataques de surpresa. O Cruzeiro estava todo adiantado e César, ao receber bom passe de Silva, demorou na conclusão, com Vicente cortando a córner.

O Flamengo concentrava um bloco a partir de sua linha média e o Cruzeiro aos poucos avançava o anel em torno, com o avanço excessivo da zaga. O valor individual de Tostão e Dirceu às vezes predominava, como aos vinte e três minutos, momento em que Dirceu quase surpreendeu a Marco Aurélio com um tiro rasteiro, que saiu pelo lado direito do gol.

O planejamento rubro-negro teve êxito aos vinte e seis minutos, em brilhante gol de Silva, de virada no canto esquerdo de Raul. O Cruzeiro reagiu imediatamente, e Tostão no minuto seguinte deu um tiro com raiva, que Marco Aurélio espalmou com dificuldade. Porém, os contra-ataques do Flamengo eram mais constantes. Aos trinta minutos, Lima desferiu um violento chute, que passou por cima do travessão e, aos trinta e oito, com a defesa celeste preocupada com Silva, que recuou para buscar a bola, e Luís Carlos lançou César, que apertou Procópio, ganhou a jogada, e marcou o segundo gol. A torcida, que havia recebido o primeiro gol com agitação frenética de bandeiras, explodiu em gritos de exaltação. As comemorações ainda prosseguiam no instante em que Evaldo, aos quarenta minutos, chutou rente à trave esquerda rubro-negra, após uma boa jogada de Zé Carlos. Mas o delírio se consolidou logo a seguir, quando Silva recebeu perto da área, tomou distância, e deferiu um potente tiro perfeito, que Raul nem viu por onde entrou. Era o terceiro gol rubro-negro. 

O Flamengo voltou para o 2º tempo sem sua principal peça ofensiva, tendo Silva ficado no vestiário e, em seu lugar, apareceu Almir, que ocupou a ponta-direita, passando Luís Carlos para a posição de ponta de lança de Silva. Se houve receio de que o time pudesse se enfraquecer, a sensação durou só dez minutos, pois uma tabela notável entre Luís Carlos e César, deixou o primeiro livre para um chute cruzado indefensável: 4 a 0!

E o time rubro-negro queria mais, pois logo conquistou o quinto gol, num lance pessoal e digno de placa: Luís Carlos driblou vários defensores e fuzilou Raul com um petardo no alto do gol. Eram apenas vinte minutos da segunda etapa. O Cruzeiro ficou completamente desarvorado, embora devesse ser louvado seu espírito de luta, carregando com entusiasmo a bola para o ataque, Seguro e dono do placar, o Flamengo deu descanso a seus craques, tendo entre os vinte e cinco e os trinta minutos fez outras quatro substituições. Foi em meio a este período que o Cruzeiro assinalou seu gol e honra, quando Natal surpreendeu ao goleiro Ubirajara, que recém havia entrado em campo no lugar de Marco Aurélio.

Aos trinta e um minutos, o árbitro ainda assinalou um pênalti de Onça em Natal, que Zé Carlos desperdiçou, chutando no travessão. Aos trinta e sete, Natal recebeu de Tostão e passou por Ubirajara, mas tentou um outro drible, para abrir seu ângulo de chute, e acabou sendo desarmado pelo jovem goleiro reserva rubro-negro. Dali até o fim do jogo não houve outras novidades. Apitado o fim do jogo, em entrevista dada nos vestiários, Tostão reconheceu: "Nossa zaga jogou avançada demais. Tenho a impressão de que se a partida tivesse mais tempo, o panorama não teria mudado a nosso favor, muito pelo contrário, acho que o Flamengo é quem ampliaria o marcador". A síntese de uma atuação rubro-negra de gala. Mas a grande impressão apresentada neste festivo cartão de visitas, não se consolidou no resto da temporada, na qual aquele elenco fracassou. Mas naquele dia, foi brilhante!





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