segunda-feira, 2 de julho de 2012

Maiores Jogos da História do Flamengo: 27/05/01 - Flamengo 3 x 1 Vasco




Jogos Inesquecíveis: 27/05/2001 - Flamengo 3 x 1 Vasco

"A disparidade técnica em relação ao time do Vasco, contra quem o Flamengo, pelo terceiro ano consecutivo, habilitou-se para disputar a final do Campeonato Carioca, não era tão grande como em 1999 e 2000. Em meio a dias tão tumultuados, ao menos houve uma grande alegria para amenizar as mazelas que se acumulavam. E que alegria! Num jogo histórico, o Mengão faturou o tricampeonato e fez o Vasco tornar-se “trivice”.


O time campeão tinha: Júlio César, Alessandro, Juan, Gamarra e Cássio; Leandro Ávila, Rocha, Beto e Petkovic; Reinaldo e Edilson. Apesar da força de seu time, a conquista foi dramática. O gol da vitória só saiu aos 43 minutos do segundo tempo, numa cobrança de falta magistral do sérvio Petkovic. Foi a união da dramaticidade do gol de Rondinelli em 1978, no último minuto, com o inesquecível gol de Rodrigo Mendes em 1999. Ambos, juntos, foram invocados naquele instante.


O Flamengo havia perdido o primeiro jogo por 2 a 1, e o Vasco tinha a vantagem de dois resultados iguais. O Fla vencia por 2 a 1, com dois gols de Edilson, até Pet se preparar para aquela cobrança. A bola, caprichosamente, entrou no ângulo do goleiro Helton. Um tiro absolutamente indefensável... mais uma taça na Gávea! Flamengo tricampeão carioca!!! Vasco, trivice-campeão!!!" (A NAÇÃO, pg. 213)



Ficha Técnica
27/05/2001 - Flamengo 3 x 1 Vasco
Local: Maracanã (Público: 62.555 espectadores)
Gols: Edílson (21'1T), Juninho Paulista (40'1T), Edílson (8'2T) e Petkovic (43'2T)
Fla: Júlio César, Alessandro (Maurinho), Juan, Fernando e Cássio; Leandro Ávila, Rocha, Beto (Jorginho) e Petkovic; Reinaldo (Roma) e Edílson.
Téc: Mário Jorge Lobo Zagallo
Vasco: Hélton, Clébson, Alexandre Torres, Géder (Odvan) e Jorginho Paulista; Fabiano Eller, Paulo Miranda, Juninho Paulista e Pedrinho (Jorginho); Euller e Viola (Dedé Panterinha).
Téc: Joel Santana




A História do Jogo

Pelo terceiro ano consecutivo, Flamengo e Vasco chegavam à decisão do Campeonato Carioca. Nos dois anos anteriores, o time vascaíno era amplamente favorito, mas em 1999 com gol de Rodrigo Mendes, e em 2000 com o time rubro-negro emplacando 3 a 0 logo no primeiro jogada final, o Flamengo surpreendeu duas vezes e faturou o bi-campeonato. Em 2001 as forças eram mais equilibradas. O Flamengo tinha um plantel com grandes investimentos, como o zagueiro paraguaio Gamarra, o meia sérvio Petkovic, e o centroavante Edílson, o "Capetinha". O Vasco ainda mantinha o time estrelado dos anos anteriores, com uma poderosa linha de frente, desta vez formada por Juninho Paulista, Pedrinho, Euller, Viola e Romário. Pela melhor campanha, o Vasco tinha ainda a vantagem de dois resultados iguais. Venceu o primeiro jogo por um gol de diferença (2 x 1), forçando o Flamengo a vencer por dois gols de diferença na segunda partida para consumar seu quarto tri-campeonato na história. Romário, com dores na panturrilha, não foi para o jogo e fez todos lembrarem da final de 1999, quando ele estava do lado do Flamengo e saiu da partida decisiva logo nos primeiros minutos também por um problema muscular.

Em 2001 o Flamengo vivia um colapso financeiro gravíssimo, imposto pela quebra de sua parceira, a empresa suíça de marketing esportivo ISL. Dias antes, o time rubro-negro tinha sido eliminado da Copa do Brasil após um empate por 1 a 1 com o Coritiba, gerando um enorme clima de tensão. Os salários dos jogadores estavam atrasados havia alguns meses. Indignado, Petkovic ameaçava não entrar em campo por conta destes atrasos. Na semana da decisão, a diretoria conseguiu levantar fundos emergenciais e quitou os salários atrasados de todos menos um no elenco, não se conseguiu dinheiro para o pagamento justamento do maior salário do elenco, o do meia Dejan Petkovic. O meia se revoltou. Prometeram que na quinta-feira ele receberia parte do valor devido. A quinta acabou e o dinheiro não entrou na conta. Na sexta-feira, também não houve pagamento. Indignado, o sérvio deixou a concentração e foi para casa.
 
Na narativa dada pelo próprio Pet em entrevista ao site GloboEsporte.com em 26 de maio de 2011: "Fiquei chateado, apelei mesmo, briguei com eles e fui embora para casa, não fui para a concentração. Liguei para o meu amigo Wilsão, falei que não ia jogar. Ele tentou me convencer, ficamos juntos no telefone até meia-noite, quando ele conseguiu me convencer que eu estaria jogando pela torcida, que os dirigentes eram passageiros. O Wilsão me disse para depois do jogo explicar para todo mundo, ir embora, mas conversou comigo, falou: 'Sem você nossas chances diminuem ainda mais'. Eu respondi 'tá bom, vou jogar'. Voltei para a concentração, cheguei no restaurante por volta de meia-noite e meia, estava toda a cúpula do futebol. Sem falar com eles, sentei numa mesa. O gerente de futebol veio falar comigo e perguntou: 'Parceiro, estamos dentro?'. E eu respondi: 'Se não estivesse, eu viria para cá!?'. Jantei e fui dormir". No sábado Zagallo chamou Petkovic para conversar, reforçando que contava com o foco total dele. E o Flamengo, em meio a uma tremenda turbulência, estava assim pronto para ir para o jogo.

Se por um lado o Vasco teria a ausência de Romário, por outro o Flamengo também teria um desfalque importantíssimo, estaria sem Gamarra, com o jovem Fernando tendo sido escolhido para ser o seu substituto. O defensor era um dos que compunham o incrível número de atletas formado nas categorias de base entre os titulares daquele time do Flamengo: dos onze em campo, sete eram da base, sendo toda a linha defensiva, formada por Júlio César, Alessandro, Juan, Fernando e Cássio, o meia Rocha e o atacante Reinaldo. Era um grande contraste frente àquele experiente time Vasco e suas estrelas tão acostumadas com decisões.

A bola então rolou. E logo aos dois minutos, uma primeira falta perigosa para o Flamengo, Pet foi para a bola pela primeira vez, mandou para a área, mas a zaga tirou. Aos quatro minutos, Beto teve outra oprtunidade de falta, mais longe da área, do jeito para ele, que cobrava mais forte. A bola desviou na zaga e foi para escanteio. O jogo começou elétrico e muito nervoso. Aos doze minutos, já eram doze as faltas marcadas, dez do Vasco e duas do Flamengo. Uma falta por minuto. Aos treze, mais uma falta e um primeiro desentendimento no jogo, com áspera discussão entre Beto e Clébson, tendo ambos recebido cartão amarelo.

O Flamengo estava melhor em campo, tinha mais a posse de bola, mas era o Vasco quem levava mais perigo, explorando as jogadas de contra-ataque que conseguia criar. Aos dezessete minutos, Viola recebeu na área e deu um toque caprichado, e Júlio César fez uma boa defesa com os pés. Na jogada seguinte, quem foi ao ataque foi o time rubro-negro. Clébson derrubou Cássio dentro da área e o árbitro Léo Feldman não hesitou: pênalti! Edílson foi para a bola, colocou num canto e o goleiro Hélton foi para o outro: 1 a 0.

Aos vinte e quatro, Viola quase empatou, mas não alcançou um cruzamento vindo da esquerda. O Vasco estava travado no meio de campo, e passou a ter dificuldades de chegar à área rubro-negra. Aos trinta, Euller driblou Fernando e disparou rumo à área, recebendo combate de Alessandro e caindo, pedindo pênalti. O juiz mandou seguir e fez sinal para que se levantara.

Aos trinta do primeiro tempo, o Vasco foi forçado a fazer uma substituição na zaga. Géder sentiu desconforto muscular e foi substituído por Odvan. Logo depois, aos trinta e três, Euller recebeu em posição de impedimento, mandou para as redes, mas o impedimento foi assinalado. Ele estava bem a frente da linha de zagueiros rubro-negros quando o passe partiu dos pés de Jorginho Paulista.

Aos quarenta minutos, o Vasco recuperou a posse de bola após erro de Alessandro, a bola sobrou e Juan perdeu a dividida com Viola, o centroavante cruzmaltino ganhou, entrou na área e, sem ângulo e com dois marcadores à sua frente dentro da área, rolou para Juninho Paulista, que não perdoou: 1 a 1. Festa cruzmaltina. O confronto voltava à estaca zero, com o Flamengo voltando a precisar de dois gols.

Afoito, o Flamengo partiu para o ataque, e deixou buracos no seu sistema defensivo e por muito pouco a final não foi resolvida em favor dos vascaínos nestes minutos finais do primeiro tempo. Aos quarenta e três minutos, Beto tocou errado no meio de campo, Juninho ficou com a bola - a defesa flamenguista estava completamente desguarnecida - ele avançou sozinho, driblou Fernando e chutou, com Júlio César fazendo uma grande defesa e salvando o Flamengo de sofrer a virada. Foi com alívio que os rubro-negros receberam o apito que deu fim ao primeiro tempo. Ainda que aquilo significasse que só restavam 45 minutos para o time conseguir marcar dois gols. Naquele momento, o título parecia que seria vascaíno.

Os times voltaram para o 2º tempo sem modificações. E o intervalo parece ter feito bem ao time rubro-negro. Logo aos 50 segundos, Beto partiu para o ataque deixando vários adversários para trás e abrindo na esquerda para Petkovic, o sérvio cruzou para Edílson e a cabeçada bateu na zaga e foi para escanteio. Na segunda etapa, Zagallo pediu para Pet cair mais pelo lado esquerdo de ataque, explorando a fragilidade demonstrada na primeira etapa pelo lateral Clébson. E foi por ali onde em alguns minutos depois sairia o segundo gol.

O Flamengo era todo ataque e o Vasco nitidamente buscava apenas explorar os contra-ataques. E levava muito perigo quando recuperava a bola e partia em velocidade. Mas a pressão rubro-negra deu resultado. Aos oito minutos, Petkovic driblou Paulo Miranda pela esquerda e cruzou para a área, um cruzamento feito como se fosse um passe, tamanha a precisão, na cabeça de Edílson na pequena área, que testou impiedosamente no contra-pé do goleiro vascaíno: 2 a 1 para o Flamengo. Com mais de meia hora por ser jogada, o sonho do tri-campeonato voltava a se mostrar alcançável.

Dois minutos depois e o Vasco quase empatou novamente. Juninho cobrou falta na entrada da área, a bola passou pela barreira e deixou Júlio César sem reação, só torcendo, e vendo a bola passar raspando ao travessão. No minuto seguinte a este lance, Euller, o "Filho do Vento", engatilhou um contra-ataque muito rápido pela esquerda, entrou na área, driblou Júlio César, mas ficou sem ângulo e chutou nas pernas de Leandro Ávila, com a bola saindo para escanteio. E aos treze minutos, mais um momento de perifo, Euller driblou Juan e chutou, obrigando Júlio César a fazer mais uma grande defesa. O goleiro rubro-negro teve uma atuação exuberante sendo, sem dúvidas, um dos grandes responsáveis pela vitória rubro-negra naquela tarde no Maracanã.

Entre os vinte e os trinta e cinco minutos da segunda etapa o jogo esteve muito amarrado, com muito poucas oportunidades de gol. O Vasco já não tinha mais o mesmo ímpeto, começou a dar sinais de que anseava para que o fim do jogo chegasse logo. Precisando do terceiro gol para conquistar o título, o Flamengo assumiu o controle das ações, passando a pressionar mais.

Aos trinta e nove minutos, empurrado pelo canto de sua rorcida nas arquibancadas, o Flamengo teve uma falta perto da área. Petkovic cobrou, a bola passou pela barreira, mas ficou nas mãos de Hélton. O time rubro-negro aumentava a pressão, e os vascaínos esperavam para tentar matar o jogo num contra-golpe. O cronômetro passava dos quarenta e dois minutos, o título do Vasco se aproximava. Na intermediária Leandro Ávila tocou para Edílson, que sofreu falta de Fabiano Eller. Cerca de 25 metros separavam a bola do gol. A torcida rubro-negra mandava, das arquibancadas, vibrações para dentro do campo, agitando as mãos e fazendo ruídos de suspense, que deixavam o clima ainda mais apreensivo.

O relógio marcava 43 minutos do 2º tempo. Petkovic arrumou a bola e se preparou para a cobrança. O camisa 10 rubro-negro bateu, numa cobrança mesclando força e precisão, e a barreira inteira pulou e se virou para acompanhar o destino da bola. Hélton saltou. A bola foi no ângulo, entrando no único lugar inalcançável pelo goleiro cruzmaltino. Gol!! Uma obra-prima! Uma obra de arte! Explosão de êxtase da torcida rubro-negra no Maracanã. Estado de desespero da torcida vascaína no lado oposto do estádio. Um dos gols mais impressionantes e lindos da história do futebol. Petkovic corria para o abraço em direção à torcida rubro-negra, deitando-se no gramado, feliz e realizado. Os jogadores, titulares e reservas, corriam para todos os lados, sem rumo, ao leo. Ninguém acreditava no que havia acabado de acontecer. Flamengo campeão! Petkovic entrava a partir daquele momento para um seletíssimo grupo de ídolos eternos da massa rubro-negra!

Quando o jogo foi reiniciado, após o reestabelecimento da ordem, a torcida já gritava "Tri-Campeão!!! O árbitro sinalizou que seriam quatro minutos de acréscimo. O cronômetro então chegou aos 49 minutos e o jogo terminou. O Flamengo era Tri-Campeão Carioca, três vezes em cima do Vasco. Zagallo, muito emocionado, já à beira dos 70 anos, quase passou mal. O "Velho Lobo" voltava a escrever seu nome na história rubro-negra. Uma vitória eterna, para sempre, para nunca mais poder ser esquecida!








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