terça-feira, 21 de abril de 2015

Gestão Azul: Capítulo 10 - Embates Políticos

O 1ª Quadrimestre de 2015 foi marcado por muito mais embates no campo político do que no campo de futebol. Todos os acontecimentos pautados pelo desarranjo político dentro da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) numa briga de foices por fatias financeiras do futebol carioca. Os desentendimentos se iniciaram no Carioca de 2014, quando a FERJ decidiu retirar parte da fatia de receitas de televisão destinadas a Flamengo e Vasco e direcioná-las ao campeão. À época, com Roberto Dinamite na presidência do Vasco, o único grande aliado à federação era o Botafogo. Flamengo, Fluminense e Vasco eram o bloco de oposição.

Em 2015, Eurico Miranda assumiu a presidência do Vasco, aliando-se a Rubens Lopes, presidente da FERJ. A "novidade" é que a FERJ decidiu definir o preço de ingressos de todos os jogos do Carioca 2015, e os principais afetados eram os dois clubes com contrato assinado com o Consórcio Maracanã, os dois restantes no bloco de oposição à FERJ: Flamengo e Fluminense.

Paralelamente a isto, a diretoria rubro-negra estava engajada na luta no Congresso Nacional pela aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte.

Depois de muitas idas e vindas, a nova lei foi apresentada via Medida Provisória pela Presidência da República. Na cerimônia de apresentação da lei que seria enviada ao Congresso, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, foi o único dirigente de clube a discursar na cerimônia, como um reconhecimento a seu empenho e dedicação em fazer do Flamengo um clube cumpridor de suas obrigações fiscais, que sempre rejeitou todas as tentativas de parcelamento sem contrapartidas. O ex-goleiro Dida, representante do Bom Senso FC, agradeceu em seu discurso a postura e a integridade da gestão rubro-negra, considerando-a peça fundamental para o acordo.

Os embates políticos externos deixaram marcas na Gestão Azul. Revoltado com a imposição de preço de ingresso pela FERJ, ação arquitetada por Eurico Miranda, o então vice-presidente de marketing, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, cobrou atuação mais enérgica do presidente Eduardo Bandeira de Mello, e não o tom político que ele preferiu adotar. BAP, principal arquiteto do plano de reestrturação da Gestão Azul, deixou a vice-presidência de marketing. E foi direto na entrevista que deu a Vivi Mariano, do blog Magia Rubro-Negra: "Fazer oposição ao grupo ou processo que montamos eu não vou. Agora, o Eduardo (Bandeira de Mello) não vai ser o candidato (na eleição do fim de 2015). Se ele resolver de alguma maneira se candidatar por algum outro grupo, ele vai bater chapa contra a gente".

Internamente, em meio a todo este turbilhão de acontecimentos, o ex-aliado e opositor da Gestão Azul, Delair Dumbrosck, pediu afastamento da Presidência do Conselho Deliberativo. Este acontecimento gerou um esfriamento nos embates da política interna dos salões da Gávea.

Em 15 abril de 2014 o Flamengo já havia alterado seu estatuto para alinhá-lo à Lei Pelé e suas exigências de transparência, ficando apto a receber as verbas da Confederação Brasileira de Clubes, que renderam R$ 7,4 milhões para os esportes olímpicos nos doze meses seguintes.

NA noite de 7 de abril de 2015, o Conselho Deliberativo aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro-Negra, sendo o primeiro clube no Brasil a adequar seu estatuto à Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, a qual se propõe a refinanciar as dívidas dos clubes brasileiros com exigências de contrapartidas rígidas. Nas novas regras o presidente fica inelegível de 5 a 10 anos e responde com seus bens particulares, mesmo após o término do mandato, em caso de sonegação de impostos, apropriação indébita ou outros prejuízos e atos lesivos ao patrimônio e à imagem do clube. O orçamento passa a ser padronizado conforme as determinações do Conselho Federal de Contabilidade, além de passar a haver obrigatoriedade da publicação dos balancetes trimestrais e sua comparação com o orçamento, assim como a obrigatoriedade da publicação de Demonstrações Contábeis e Financeiras, pareceres, convênio com ente público federal e relatório de atividades. A alteração foi aprovada por unanimidade, com a oposição, constatando estar em ampla minoria, retirando-se do plenário antes do começo da votação.

Ah! Mas faltava o futebol. Muita agitação em embates políticos, muitas pequenas revoluções, mas faltava respaldo dentro das quatro linhas, pois, historicamente, só assim as mudanças são viáveis, pois derrotas induzem sentimentos de fracasso, e isto fragiliza frentes políticas.

O Flamengo era franco favorito ao título do Campeonato Carioca 2015. Não tinha feito grandes contratações para a temporada, a principal foi o atacante Marcelo Cirino, do Atlético Paranaense. De resto, chegou o experiente Pará, lateral-direito do Grêmio, e quatro jovens apostas: Bressan, Thallyson, Jonas e Arthur Maia. Mas o time vinha dando continuidade ao trabalho de Vanderlei Luxemburgo, que terminou a temporada 2014 de forma mediana. Mas seus rivais regionais estavam em crise, com o Vasco voltando da 2ª divisão do Brasileiro (e havia terminado a temporada em 3º lugar da Série B), com o Botafogo tendo caído para jogar a Série B 2015 do Brasileiro, e com o Fluminense tendo perdido seu principal patrocinador, a Unimed, e perdido vários jogadores.

O Flamengo fez uma verdadeira faxina em seu elenco. Saíram o goleiro Felipe (que já estava afastado desde a chegada de Luxemburgo), o lateral-direito Léo, os zagueiros Chicão e Frickson Erazo, o lateral-esquerdo João Paulo, o volante Amaral, e os atacantes reservas Elton e Arthur. Ainda emprestou, ou reemprestou, vários jovens recém saídos da base: Wellinton, Muralha, Recife, Rodolfo, Matheus, Thomás, Negueba, Rafinha e Igor Sartori. Ou seja, uma limpa, pois saíram 17 e entraram 6. E durante o Carioca, uma 18ª baixa, com o veterano Leonardo Moura, de 37 anos, indo jogar no Fort Lauderdale Strikers, dos Estados Unidos.

Os titulares do Flamengo: Paulo Victor, Pará, Wallace, Samir e Anderson Pico; Márcio Araújo, Canteros, Gabriel e Everton; Marcelo Cirino e Alecsandro. E com um time reserva formado por: César, Frauches, Marcelo, Bressan e Thallyson; Cáceres, Jonas, Luiz Antônio e Arthur Maia; Paulinho e Eduardo da Silva. O resto do elenco tinha ainda Lucas Mugni e Nixon, além de uma leva de juniores.

O elenco fez um mês de pré-temporada, fez três amistosos preparatórios, contra Shakthar Donetsk, da Ucrânia, São Paulo e Vasco, e conseguiu fazer lucro antes da estréia no Carioca. E começou sua campanha no Estadual empatando contra o Macaé, recuperou-se, mas depois voltou a perder pontos num empate contra o Madureira. No primeiro clássico, dominou, mas perdeu por 1 x 0 para o Botafogo. Recuperou-se novamente, emplacando uma sequência de nove vitórias. Só assumiu a liderança no Carioca na penúltima rodada da Taça Guanabara. Chegou à última rodada com um desempenho de 16 vitórias, 3 empates e 1 derrota na temporada. Bastava venceu o Nova Iguaçu, último colocado, garantindo o título da Taça GB, e a vantagem de empates nas semi-finais e na final, fator que foi preponderante no título do Carioca 2014, quando acabou campeão após dois empates de 1 x 1 com o Vasco. Mas o Flamengo não saiu do zero contra o lanterna, terminando em segundo e vendo a vantagem dos empates ficar com o Botafogo.

A semi-final era contra o Vasco, e o time rubro-negro tinha a vantagem de dois empates. Jogou mal a primeira partida, mas saiu no lucro com um 0 x 0 no placar. No segundo jogo, perdeu por 1 x 0 com um gol marcado através de uma penalidade inexistente. Era apenas a segunda derrota em 23 jogos na temporada, mas uma derrota fatal. A final do Carioca 2015 era entre Vasco x Botafogo, os aliados da FERJ na luta política. Independente desta verdade, o fato é que o Flamengo foi dominado pelo frágil time do Vasco nos dois jogos da semi-final, e não fez por merecer um lugar na final.

Na esfera futebolística, o primeiro embate do ano terminou em fracasso. O planejamento do restante da temporada, no entanto, já havia se iniciado antes do fim da participação no Carioca: já estavam contratados, apresentados à imprensa e treinando, o lateral-esquerdo da Seleção da Colômbia Pablo Armero, e o meia Almir, que havia feito um bom Estadual com o Bangu.

O planejamento, porém, dependia de fatores externos para ser mantido. Assim como viu, em 2013, Mano Menezes roer a corda e trocar a Gávea pelo posto de técnico do Corinthians, agora a abordagem vinha do São Paulo, que pretendia tirar Vanderlei Luxemburgo do Flamengo.

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