sábado, 1 de outubro de 2016

Grandes Temporadas: Campeão Brasileiro de 1980

A temporada de 1980 começou com a disputa do Campeonato Brasileiro logo no 1º semestre. O ano anterior, 1979, tinha tido um calendário super confuso. Houve dois Campeonatos Cariocas, por conta da disputa política no Rio de Janeiro pós fusão (os Estados da Guanabara e do Rio haviam se fundido desde 1974, porém as Federações de Futebol Carioca e Fluminense permaneceram separadas até 1979, quando então foi criada a FERJ).

O Flamengo reinava absoluto no futebol carioca, tendo conquistado três títulos consecutivos, tendo vencido inclusive o último campeonato da Federação Carioca e o primeiro campeonato da nova Federação do Estado do Rio de Janeiro, vinha de uma sequência impressionantes de conquistas consecutivas de turnos, sem dar chance aos rivais Vasco, Fluminense e Botafogo, tendo em 1979 alcançado a maior série invicta da história, com 52 jogos seguidos sem perder. Porém, vivia uma enorme pressão por uma conquista de título nacional. A imprensa paulista, sobretudo, dizia que Zico era craque só de Maracanã, que não teria projeção para ser grande fora do Rio. O próprio Flamengo tinha esta pressão, pois tinha muito poucas conquistas além dos torneios regionais, tinha vencido apenas um Rio-São Paulo, nunca tinha vencido a Taça Brasil, e nunca havia sido sequer finalista do novo formato de Campeonato Brasileiro, iniciado a partir de 1971.

O grupo comandado por Cláudio Coutinho tinha a mesma estrutura desde 1977, tendo durante este período emergido alguns garotos das divisões de base, como Leandro, Adílio e Júlio César, e passado peças pelo elenco. Na virada do ano, saiu o centroavante baiano Beijoca, reserva de Cláudio Adão na temporada anterior. Para repor a saída, foi buscado o centroavante Nunes, ex-Santa Cruz e com rápida passagem pelo Fluminense, que estava meio esquecido, jogando pelo Monterrey, do México. Ele chegava, a princípio, para fazer sombra a Adão na camisa 9. O outro reforço foi uma aposta modesta, o zagueiro Marinho, que chegava contratado ao Londrina, do Paraná.

Logo no começo do campeonato, porém, Cláudio Adão acabou se desentendendo com o técnico Cláudio Coutinho e deixou o Flamengo, indo defender o Botafogo. Para o seu lugar, a diretoria foi buscar Gérson Lopes, que havia se destacado no Brasileiro anterior pelo Operário de Várzea Grande, do Mato Grosso. 

O elenco rubro-negro:

Goleiros: Raul e Cantareli
Laterais: Toninho e Júnior; Carlos Alberto e Leandro
Zagueiros: Marinho, Rondinelli, Manguito e Nélson
Volantes: Andrade e Vítor
Meias: Carpegiani, Adílio e Zico
Pontas: Tita e Júlio César; Reinaldo e Carlos Henrique
Atacantes: Nunes, Gérson Lopes e Anselmo




A fórmula do campeonato era completamente diferente da que passou a vigorar após 1987. Eram 40 clubes disputando o título nacional. Na 1ª fase, eles estavam divididos em quatro grupos com dez equipes cada, e com os sete primeiros colocados avançando à 2ª fase. A disputa era em turno único. O time rubro-negro arrancou com três jogos seguidos no Maracanã. Venceu a Santos e a Internacional por 1 x 0, e na terceira partida tropeçou, perdendo por 2 x 1 para o Botafogo da Paraíba. Recuperou-se na 4ª rodada, vencendo ao Mixto fora de casa, por 2 x 0, em Cuiabá. Venceu ao Ferroviário, do Ceará, por 2 x 1, no Maracanã, empatou em 2 x 2 com o Náutico, em Recife, e goleou o Itabaiana, de Sergipe, por 5 x 0 no Maracanã. Com a classificação assegurada, o time relaxou, e nas duas rodadas finais empatou com o São Paulo do Rio Grande do Sul (0 x 0) e com a Ponte Preta (2 x 2).

Na 2ª fase, as 28 equipes restantes se juntavam a 4 ascendidas da 2ª divisão e eram divididas em oito grupos com quatro clubes em cada. A disputa agora era em turno e returno, e os dois primeiros avançavam à 3ª fase. O Flamengo começou empatando em 0 x 0 com o Santa Cruz no Estádio do Arruda, em Recife. Na segunda partida, uma atuação de gala e uma goleada por 6 x 2 sobre o Palmeiras no Maracanã, com dois gols de Zico e dois de Tita. Na terceira rodada, vitória por 2 x 1 sobre o Bangu, no Maracanã, e o time rubro-negro assumiu a liderança do grupo. No returno, venceu ao Santa Cruz por 2 x 1 no Maracanã, foi a São Paulo e empatou em 2 x 2 com o Palmeiras no Morumbi. Na última rodada, enfrentou um já eliminado Bangu, e venceu por 3 x 0, garantindo a 1ª posição.

Na 3ª fase, as 16 equipes restantes se dividiam em quatro grupos de quatro, jogando em turno único, com os vencedores de grupo na 2ª fase tendo o privilégio de jogar uma partida a mais como mandante e com apenas um clube de cada grupo avançando à semi-final. Só então o campeonato tomava ares de momento decisivo. O Flamengo venceu a Desportiva, do Espírito Santo, por 3 x 0 no Maracanã, e empatou em 1 x 1 com a Ponte Preta no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas. Na última rodada recebeu ao Santos para o duelo decisivo no Maracanã, tendo a vantagem de jogar por um empate. Venceu por 2 x 0, com dois gols de Zico, e garantiu o passaporte para enfrentar ao Coritiba na semi-final.

No primeiro duelo semi-final, venceu por 2 x 0 no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, novamente com dois gols de Zico, voltando para o segundo duelo no Maracanã com enorme vantagem. Jogando em casa, saiu em desvantagem no placar, tomou um grande susto, mas se recuperou e venceu por 4 x 3, em noite na qual brilharam Nunes, com dois gols, e Anselmo, com um golaço que selou a vitória.

A final seria diante do Atlético Mineiro, tido pela mídia esportiva como o melhor time do Brasil, onde brilhavam Reinaldo, Éder, Toninho Cerezo e Luizinho. O time rubro-negro chegava à final com apenas uma derrota na bagagem. No primeiro jogo, no Mineirão, o Atlético venceu por 1 x 0, numa partida violentíssima, da qual o time saiu sem o zagueiro Rondinelli, com fratura na mandíbula. No duelo final no Maracanã, o time estaria desfalcado também, por lesão, de Carpegiani. A zaga teve Marinho e Manguito, e o meio entrou em campo com a formação que se eternizaria nos anos seguintes como o maior meio de campo da história rubro-negra: Andrade, Adílio e Zico.

O Flamengo abriu vantagem logo no começo do jogo, com Nunes completando excelente passe em profundidade de Zico. O Atlético, que realmente tinha um timaço, empatou. Antes do intervalo, Zico desempatou, mas na volta para o segundo tempo, Reinaldo, lesionado e se arrastando em campo, encontrou espaço na área para mais uma vez empatar. O 2 x 2 dava o título aos atleticanos. Nos minutos finais, porém, Nunes desempatou em brilhante jogada individual pôs o 3 x 2 no placar que deu ao Flamengo seu primeiro título nacional.

Em tempos nos quais os campeonatos mais curtos não exigiam grandes elencos e diversificadas peças de reposição, e numa época na qual o banco de reserva ia do camisa 12 ao camisa 16, o time rubro-negro era uma grande equipe, e com peças de reposição que atendiam às necessidades de Coutinho.



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