terça-feira, 8 de agosto de 2017

Novo Técnico e a Internacionalização da marca Flamengo

Decidida a demissão de Zé Ricardo, o Flamengo saiu a procura de um novo treinador. Missão complicada, dado o cenário no futebol nacional. Dos técnicos que nos últimos cinco anos (entre 2012 e 2016) conseguiram colocar seu clube empregador entre os 8 primeiros colocados do Campeonato Brasileiro, a lista de nomes era restrita: Tite, Marcelo Oliveira, Cuca, Abel Braga, Levir Culpi, Muricy Ramalho, Dorival Júnior, Ney Franco, Oswaldo de Oliveira, Renato Gaúcho, Vanderlei Luxemburgo, Wágner Mancini, Roger Machado, Mano Menezes, Jair Ventura, Argel Fucks, Eduardo Baptista, Cristóvão Borges, Paulo Autuori, Paulo Roberto Falcão, Luís Felipe Scolari, Enderson Moreira, Claudinei Oliveira, Juan Carlos Osório e o próprio Zé Ricardo.

Tite está na Seleção Brasileira, com quem tem exclusividade. Estão empregados: Marcelo Oliveira no Coritiba, Cuca no Palmeiras, Abel Braga no Fluminense, Levir Culpi no Santos, Dorival Júnior no São Paulo, Renato Gaúcho no Grêmio, Vanderlei Luxemburgo no Sport, Wágner Mancini no Vitória, Mano Menezes no Cruzeiro, Jair Ventura no Botafogo, Argel Fucks no Goiás e Paulo Autuori no Atlético Paranaense. Muricy Ramalho se aposentou. Oswaldo de Oliveira está no Catar e Scolari está na China. Roger Machado, Ney Franco, Eduardo Baptista e Cristóvão Borges estão assim como agora está Zé Ricardo, sem clube. O primeiro destes, foi o primeiro nome procurado pelo Flamengo, e recusou assumir qualquer clube no meio de temporada (se todos os treinadores pensassem e agissem assim, a rotatividade de técnicos não seria tão alta). O que se vê são poucas opções interessantes e/ou de consenso.

A minha opção? Seria uma decisão arriscada, pois pode comprometer as possibilidades de título da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, últimas possibilidades de troféus além dos limites estaduais que, friamente, restaram em 2017. E, certamente, qualquer resultado ao fim do ano que não inclua um outro troféu além do título estadual, será acertadamente considerado um fracasso!

Ainda assim, eu acredito que o risco devesse ser corrido, e independente do técnico escolhido para finalizar o trabalho de agosto a dezembro, ele deveria ter um trabalho interino restrito a este período. Eu explico meu raciocínio: a escolha do novo treinador para 2018, além dos critérios técnicos, e de ser alinhada à grandeza que se espera do Flamengo (Reinaldo Rueda, com todo o respeito ao futebol colombiano e ainda que reconhecendo a grandeza de dar um título da Libertadores ao Atlético Nacional de Medellin, na minha opinião não se enquadra neste quesito) deveria estar alinhada ao objetivo de internacionalização da marca Flamengo.

O que é internacionalização de marca? É dar grandeza internacional a seu nome.

Tenho experiências a compartilhar com internacionalização de clubes brasileiros. Em fins dos anos 1990 passei algumas semanas no Peru, num seminário de desenvolvimento de líderes estudantis latino-americanos. Não perdi a oportunidade de perguntar a hispano-americanos (estudantes universitários, é bom mais uma vez frisar) quais clubes de futebol do Brasil eles conheciam. As respostas: Grêmio, São Paulo, Vasco e Cruzeiro. E o Flamengo? Nenhum deles me citou. E o time do Zico? Aquela garotada ainda não era nascida. Lembraram dos nomes que tinham sido campeões da Libertadores naquele espaço de tempo recente. Títulos internacionais num passado recente é algo fundamental quando se fala em projeção internacional de marca!

A história também é importante, mas para efeito de marca, vai se apagando com o tempo. Mas, na mesma viagem, numa loja de material esportivo no centro de Lima, vi uma vitrine em que haviam três camisas expostas: Alianza, Universitário e Flamengo. Pena que não tinham celulares com câmeras fotográficas potentes naquele tempo. Não pude fazer o registro. Sim, na memória dos mais velhos, a marca Flamengo ainda estava lá, a ponto de dividir a vitrine com as camisas dos dois clubes mais tradicionais de Lima, e duas décadas antes de Guerrero e Trauco vestirem a camisa rubro-negra.

História seguinte: no começo dos anos 2000, morei a trabalho no México. Diante dos descentes de mayas e aztecas, repeti a enquete para um público mais variado, companheiros de trabalho de diversas idades. A resposta foi bem parecida. O único que me falou do Flamengo foi um torcedor do León, que lembrava que era o clube onde seu ídolo, o maior jogador da história do León, havia sido revelado no Brasil: Milton Queirós da Paixão. Poucos vão associar o nome à pessoa, mas este é o Tita, campeão daquele time rubro-negro de 1981, que passou por terras mexicanas em fim de carreira e deu ao León seu único título nacional. Todos os demais me citaram, pelo mesmo motivo da experiência no Peru, a São Paulo, Vasco, Grêmio, Cruzeiro e Palmeiras, que eram os que vinham disputando com mais frequência a Libertadores em anos recentes. Internacionalização, portanto, é participar e vencer com frequência e ter o nome associado a grandes figuras que deixaram marca no futebol internacional.

Repito a experiência em solo europeu num passado mais recente. Quase ninguém que conheci, todos mais velhos e do mundo corporativo, disseram-me conhecer qualquer clube de futebol do Brasil. Com um pouquinho de ajuda, soltavam um "Ah é! Deste já ouvi sim". Espontaneamente, apenas uma pessoa me falou do Flamengo, e me explicou porque: lembrava que era para onde havia ido o Romário quando saiu do Barcelona. Vale lembrar que esta experiência foi anterior à passagem de Ronaldinho Gaúcho pelo clube. Mais uma a associação da internacionalização a um nome de um fora de série.

Bom, é hora então de juntar as duas histórias: novo técnico e internacionalização da marca. O caminho: um pensador alinhado a estratégias modernas e capaz de dar títulos.

Trazer um técnico estrangeiro é complicado. Muito mais complicado ainda trazer num meio de temporada, ainda mais na qual se joga quarta e domingo seguidamente sem parar, absolutamente sem nenhum tempo para se treinar, só podendo se ajustar no jogo. Um técnico que precisa de tempo para se adaptar ao cenário nacional não conseguiria num ritmo como este...

Um estrangeiro que fala português, tem família brasileira, é muito conhecido internacionalmente e já teve passagem pelo futebol brasileiro, poderia se adaptar mais rápido, mas ainda assim teria que iniciar um trabalho junto ao início da temporada, para que desse certo. Um cara que reúne todas estas características e que teve uma técnica inquestionável dentro de campo, jogando com muito sucesso por Ajax, Real Madrid, Milan e Internazionale. Um cara que já teve uma experiência como treinador a frente do Milan, em 2014, e para quem a parte estratégica do jogo não será nenhuma novidade. Se ainda não descobriram de quem estou falando, com a informação final saberão: um cara que terminou a carreira vestindo a camisa do Botafogo. Estrategista, detalhista, perfeccionista, fala português, teve experiência no futebol brasileiro, foi um baita jogador com a camisa da Seleção da Holandesa e destes clubes que listei: Clarence Seedorf. Este seria meu nome para comandar o banco de reservas rubro-negro durante 2018. Para aumentar as chances de dar certo, com dois auxiliares brasileiros, sendo que um deles poderia vir a ser o próprio Zé Ricardo, o outro quem sabe o Andrade, ou mantendo-se o Jayme de Almeida. Seria ainda por cima uma forma de investir na formação de treinadores rubro-negros. É uma aposta ousada. Mas como disse Daniel Alves a Neymar antes do craque trocar o Barcelona pelo Paris St-Germain: o mundo é dos valentes e dos fortes.

Resta saber se a diretoria conseguiria mantê-lo por um ano inteiro, de ponta a ponta, independentemente das críticas da imprensa, e das pressões de fora para dentro...

SRN
Marcel Pereira

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