quarta-feira, 4 de abril de 2018

Gestão Azul: Capítulo 18 - Fábrica de Baldes de Água Fria


Em 2017, a expectativa por grandes resultados era enorme. Tendo-se terminado a temporada com o título de Campeão Carioca Invicto e sido derrotado em duas finais - Copa do Brasil e Copa Sul-Americana - construiu-se na imprensa e na torcida um sentimento de fracasso do trabalho. Com isto, vinha da imprensa no fim de 2017 uma forte pressão por reformulação total... eram matérias seguidas em vários veículos citando os nomes que fariam, ou deveriam fazer, parte da "barca" que zarparia com atletas a serem dispensados pelo clube. Porém, diferentemente de outras temporadas, não houve mudanças radicais impulsivas, não houve atletas "demitidos", embora aqueles que tinham tido pior desempenho e/ou foram mais criticados, tenham vindo a ser emprestados. Na volta das férias, estavam na lista de emprestados: Alex Muralha (Albirex Niigata, do Japão), Márcio Araújo (Chapecoense), Matheus Sávio (Estoril, de Portugal), Gabriel (Sport Recife) e Mancuello (Cruzeiro). A única saída em definitivo foi a do meia Dario Conca, que após entrar em campo apenas em três partidas durante 2017, com o encerramento do contrato de empréstimo no fim do ano, voltou a seu clube na China. Quanto ao zagueiro Rafael Vaz, inicialmente nenhuma negociação se concretizou e ele se reapresentou com o restante do elenco na volta das férias, porém, algumas semanas depois ele acabaria cedido ao Universidade de Chile, para disputar a Libertadores.

A principal novela durante as férias, ocupando o tempo da mídia esportiva, foi a continuidade ou não de Reinaldo Rueda. O técnico colombiano se manteve em silêncio durante as festas de fim de ano, mas os relatos que chegavam do exterior indicavam a negociação para que ele assumisse como treinador da Seleção do Chile, que não havia conseguido a classificação para a Copa do Mundo de 2018. A novela se arrastou, só sendo concluída na volta das férias, e confirmando os rumores: Rueda trocou o Flamengo pelo Chile. Era a terceira vez na Gestão Bandeira de Mello que o clube perdia o treinador contra sua vontade: Mano Menezes demitira-se para assumir o Corinthians, e Muricy Ramalho saíra por motivos de saúde, após sofrer uma taquicardia. A diretoria vinha negociando desde dezembro com Paulo César Carpegiani para que ele assumisse uma nova função, como Coordenador Técnico, ampliando a gestão do futebol além do Diretor de Futebol, Rodrigo Caetano, e do Gerente de Futebol, Mozer. Carpegiani havia terminado o Campeonato Brasileiro como técnico do Bahia, na 12ª colocação. O desejo da diretoria era ter o técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, campeão da Libertadores 2017, e a alternativa que estava livre no mercado era Cuca, campeão da Libertadores 2013 com o Atlético Mineiro e campeão brasileiro 2016 com o Palmeiras (e campeão carioca 2009 com o Flamengo). A decisão foi começar a temporada com Paulo César Carpegiani como técnico, assumindo o lugar de Rueda, técnico campeão da Libertadores 2016 com o Atlético Nacional de Medellin. Havia uma compreensível obsessão com nomes campeões da Libertadores, fossem treinadores fossem jogadores. A América era a obsessão de sucesso rubro-negro.

O primeiro reforço para a temporada foi confirmado apenas em 16 de janeiro, um mês e três dias após a partida final da Sul-Americana, três dias após o elenco se reapresentar das férias, e uma aposta relativamente modesta: o ponta colombiano Marlos Moreno, uma indicação de Reinaldo Rueda. O jovem jogador, com 21 anos quando chegou ao Ninho do Urubu, era reserva do time do Atlético Nacional campeão da Libertadores 2016, quando foi contratado pelo Manchester City. Não havia entrado em campo na Inglaterra, tendo jogado por empréstimo no Deportivo La Coruña e no Girona, ambos da Espanha, mas sem conseguir destaque em nenhum dos dois clubes. Diferentemente das temporadas 2016 e 2017, a temporada 2018 do Flamengo não começava com forte investimento em contratações, e assim estava previsto que fosse no orçamento do ano apresentado aos conselhos internos do clube. Era considerado que o maior mérito era poder manter a base que chegara a três finais na temporada 2017, saindo apenas os jogadores que o Flamengo desejava que tivessem saído. A intenção, no entanto, era contratar ainda mais três peças: um zagueiro, um cabeça de área e um centroavante. As negociações se arrastavam... fracassaram as tentativas de contratação do centroavante Fred, do Atlético Mineiro (que acabou adquirido pelo Cruzeiro), do lateral-esquerdo Zeca, que estava em litígio jurídico com o Santos (contratação vetada pelo Departamento Jurídico do Flamengo), do zagueiro Pablo (campeão brasileiro 2017 com o Corinthians, mas com passe vinculado ao Bordeaux, da França, que rechaçou cedê-lo), do volante Wallace (negócio rechaçado pelo Hamburgo, da Alemanha, que detinha seu passe), e do centroavante Vágner Love (que acabou trocando o Alanyaspor pelo Besiktas, mantendo-se no futebol da Turquia).

O cenário desenhado no início da temporada 2018: enquanto o Flamengo mantinha um elenco forte, seus rivais no Rio de Janeiro se desmanchavam e estavam em frangalhos. Todos eles perderam a principal peça de seus respectivos elencos: Bruno Silva trocou o Botafogo pelo Cruzeiro, Anderson Martins trocou o Vasco pelo São Paulo, e Gustavo Scarpa conseguiu liberação na justiça de seu vínculo com o Fluminense, fechando com o Palmeiras. O Botafogo ainda viu o técnico Jair Ventura, revelação do futebol brasileiro no ano de 2017, trocá-lo pelo Santos. O resumo da situação estava ilustrado numa matéria da imprensa esportiva, que, no entanto, também ilustrava os enviesamentos no olhar da imprensa paulista - arcaicamente ainda presa a uma visão bairrista, no que também era uma ilustração dos preconceitos que eram precisos ser enfrentados pelo Flamengo e sua "gestão revolucionária" - eis as palavras da coluna de Marcondes Brito, publicada em 15 de janeiro, data na qual o Palmeiras anunciava contrato de cinco anos assinado com o meia Gustavo Scarpa, que havia se desligado do Fluminense; assim o jornalista descreveu o cenário: "Gustavo Scarpa, pelo que vinha jogando no Fluminense, era o melhor jogador carioca em atividade. O Palmeiras acabou de contratá-lo por 5 anos. Roger, saiu do Botafogo para o Inter; Nenê é sempre uma incógnita; e Diego Ribas parece feliz no Flamengo. Mas o fato é que o futebol do Rio mostra fragilidade financeira". Ignorando-se o preconceito na visão míope que descaradamente colocava todos no mesmo cesto por estarem todos na mesma cidade, ficava claro o quanto o Flamengo se descolava financeiramente com a Gestão Eduardo Bandeira de Mello de seus rivais cariocas. As situações de Fluminense e Botafogo eram as mais graves, pois, sem recursos financeiros, viam vários jogadores saírem e não conseguiam contratações a altura, restando apostar em nomes emergidos das divisões de base. O Vasco, envolto em uma série crise política após a contatação de fraude em sua eleição presidencial, esperava a definição do novo presidente pela justiça, que endossaria as evidências de fraude e impediria a posse de Eurico Miranda. No campo, o time treinado por Zé Ricardo preparava-se para a Pré-Libertadores, tendo perdido peças importantes, mas tendo conseguido ir ao mercado e contratar, restando apenas que se aguardasse a qualidade das trocas. Mas o Vasco, a princípio, parecia ser o único adversário com capacidade para fazer alguma frente ao Flamengo no Campeonato Carioca 2018. Ledo engano... a "fábrica de baldes de água fria" já estava montada para funcionar, só seu produto final é que ainda não estava visível... era questão de tempo. A prioridade rubro-negra não era o Carioca, era avançar na Libertadores. O clube estava traumatizado por três eliminações consecutivas na Fase de Grupos - em 2012, 2014 e 2017 - algo não condizente às pretensões que o clube tinha de ser um dos maiores da América do Sul. Ainda que a prioridade fosse outra, no entanto, cair para um de seus rivais no Estadual, já que eles estavam em estado de frangalhos, era um vexame que obviamente teria enormes consequências negativas para o conjunto da temporada 2018.

O abismo que separava a realidade do Flamengo de seus rivais no Rio de Janeiro também estava explícito no basquete. Campeão Brasileiro em 2013, 2014, 2015 e 2016, o Flamengo despertou o desejo em seus rivais de voltar a ter equipes competitivas nas quadras de basquete. O Vasco foi campeão da 2ª divisão em 2016 e o Botafogo foi campeão da 2ª divisão em 2017. Para a temporada 2017-18, o Vasco aumentou seu investimento, passando, em teoria, a ser postulante ao título nacional (detalhe: terminou a temporada 2016-17, na qual caiu nas oitavas de final, enquanto o Flamengo caiu na quartas de final, devendo salários aos jogadores do elenco). Ao final do 1º turno da Liga Nacional de Basquete na temporada 2017-18, o Vasco mantinha o descompasso administrativo-financeiro e devia três meses de salário ao elenco recém-formado, totalmente reformatado frente à temporada anterior, e fazia uma campanha pífia, tão só em 11º lugar, enquanto o Flamengo era o líder da tabela de classificação. O basquete rubro-negro, em janeiro de 2018, ainda concretizou uma badalada contratação, repatriando Anderson Varejão, pivô brasileiro que retornava ao país após mais de uma década entre a Europa e a NBA, nos Estados Unidos. Voltava ao Brasil depois de ter defendido a Barcelona, Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, e sido campeão na NBA e na Euroliga. Sanado economicamente, o basquete rubro-negro lhe daria o maior salário da Liga Nacional. Palmas para a honrosa história olímpica do Clube de Regatas do Flamengo! Palmas para mais um exemplo de excelência financeira! Entretanto, a saúde rubro-negra depende exclusivamente do desempenho do futebol. Esta diretriz tem que estar muito clara, sempre. Nada disto significava muita coisa para a Gestão Bandeira de Mello se o resultado no futebol não se convertesse em títulos expressivos. E com um fator de dificuldade a mais: o status quo do futebol brasileiro, preocupado com um rebalanceamento de poder com as mudanças propostas nos anos anteriores pela Primeira Liga, trabalhou para que não houvesse datas disponíveis para competições "desalinhadas ao status quo". Assim, a temporada 2018 começou absolutamente sem limites para realização de uma pré-temporada. O futebol do Flamengo se reapresentou das férias em 13 de janeiro e a estreia do clube no Campeonato Carioca estava marcada para 17/jan, três dias depois. Isto forçou o clube a iniciar a competição, muito acertadamente, usando um time sub-20. E a garotada não decepcionou, vencendo ao Volta Redonda por 2 x 0 e ao Cabofriense por 1 x 0 nas duas primeiras rodadas. A partir daí, o elenco principal foi sendo inserido aos poucos, mesclado aos garotos, nas rodadas seguintes, com uma vitória por 1 x 0 sobre o Bangu e um empate sem gols com o Vasco. Sem colocar seus titulares em campo, o Flamengo, sem sequer sofrer gols, classificou-se à semi-final da Taça Guanabara, e com a primeira colocação do grupo assegurada, com uma rodada de antecedência. Só na 5ª rodada, num jogo que decidiu levar para ser realizado em Brasília, o time titular entrou efetivamente em campo, numa vitória por 1 x 0 sobre o Nova Iguaçu. Na teoria, o planejamento estava cuidadosamente bem desenhado. Mas isto só seria um mérito, se os resultados positivos se materializassem.

A esta altura o clube já tinha apresentado novidades, pois mais duas contratações adicionais haviam sido confirmadas. A primeira delas apenas de valor simbólico: o veterano goleiro Júlio César voltava ao Flamengo, depois de muitos anos na Europa, com um contrato de apenas 3 meses, válido até o fim do Carioca. A principal novidade, esta sim de maior impacto: em 1 de fevereiro foi anunciada a aquisição do centroavante Henrique Dourado, do Fluminense, artilheiro do Brasileirão 2017. Uma peça que chegava visando atender à necessidade de um homem-gol, com características essencialmente de "matador".

Numa estratégia similar à usada no Carioca de 2014, o elenco estava dividido no início da temporada em três forças, e sem poder contar com quatro peças do elenco, os lesionados Willian Arão, Ederson e Berrio, e o suspenso Paolo Guerrero, eis a distribuição de forças usada por Carpegiani no início da temporada:

"Time A": Diego Alves, Pará, Réver, Juan e Renê; Cuéllar, Lucas Paquetá, Diego e Everton; Everton Ribeiro e Henrique Dourado.

"Time B": César (Júlio César), Rodinei, Rhodolfo, Léo Duarte e Trauco; Jonas, Rômulo, Geuvânio e Vinícius Júnior; Marlos Moreno e Felipe Vizeu.

"Time C": Gabriel Batista, Kléber, Thuler, Patrick e Ramon; Ronaldo, Jean Lucas, Pepê e Jajá; Lucas Silva e Lincoln.

Após quatro vitórias e um empate, e sem sofrer gols, o time chegou à semi-final da Taça Guanabara para duelar contra o Botafogo, a quem não teve dificuldades de vencer por 3 x 1. Na final, vitória por 2 x 0 sobre o Boavista. Com 6 vitórias e 1 empate nos sete primeiros jogos da temporada (14 gols feitos e só 1 gol sofrido), a temporada começava sem grande esforço. No começo da Taça Rio, os titulares venceram ao Madureira por 4 x 0. Tudo parecia relativamente tranquilo, mas o que valia mesmo ainda estava por começar.

O time entrou sem os titulares no confronto contra o Fluminense, na véspera da primeira partida pela Libertadores, na qual teria que jogar sem torcida (a Conmebol aplicou pena de dois jogos como mandante com portões fechados em função da baderna e da violência no lado de fora do Maracanã durante a final da Sul-Americana contra o Independiente). O clássico foi disputado em Cuiabá, na Arena Pantanal, e os reservas rubro-negros apanharam do time tricolor: 4 x 0 para o Flu. Os reservas ainda perderam o jogo seguinte em que foram utilizados: Macaé 1 x 0. Já os titulares venceram ao Botafogo por 1 x 0, ao Boavista por 3 x 0 e à Portuguesa por 4 x 0. Tudo ainda parecendo evoluir dentro do previsto...

O que valeria mesmo era o jogo contra o River Plate, no Engenhão. A Libertadores já começava com um sabor de jogo decisivo. Na memória, o fato de que um ano antes o time ter vencido três vezes em casa e ter perdido três vezes jogando fora. Parecia fundamental iniciar com vitória se quisesse espantar o fantasma de outra eliminação precoce como a do ano anterior. Num jogo duríssimo, o time rubro-negro conseguiu sair a frente no início do 2º tempo, com um gol de pênalti convertido por Henrique Dourado. Um minuto depois, porém, num gol em impedimento não assinalado, os argentinos empataram. Não tardou muito, e Everton colocou o Flamengo novamente a frente. Depois do gol, o time recuou, passou a dar chutões para frente, sem conseguir reter a bola no ataque, ela ia e voltava. Além da estratégia errada, outras escolhas infelizes de Carpegiani. Depois de tanto planejamento, tempo para condicionar o elenco, dosagem de forças, times A, B e C, depois de tudo isto, no jogo mais importante do começo de temporada, o técnico decidiu relacionar Willian Arão, que voltava de contusão e ainda não havia entrado em campo nenhuma vez na temporada. Com três opções de substituição, ele trocou um lateral e dois cabeças de área... parecia não querer vencer. No 2º tempo, Arão entrou em campo... depois de vários bate e volta, de um jogo de ataque contra defesa, aos 41 minutos foi exatamente sobre a marcação de Arão, que sem ritmo chegou atrasado na cobertura, que o River Plate conseguiu o empate em 2 x 2. Que ducha de água fria! Um balde de água gelada sobre as cabeças rubro-negras.

Com o empate em casa, o jogo contra o Emelec em Guaiaquil ganhou ares ainda mais decisivos. Pareceu que se repetiria o filme da 2ª rodada da Libertadores de 2017, quando no primeiro confronto fora de casa, contra o Universidad Católica, no Chile, o time dominou totalmente, criou poucas chances de gol, tomou um gol do 2º tempo e saiu derrotado. Contra o Emelec o filme parecia que iria ser o mesmo quando os equatorianos balançaram as redes já quase na metade do 2º tempo. O elemento novo, que evitou a repetição da história, entrou em campo logo após o gol do Emelec: Vinícius Júnior, 17 anos, já vendido ao Real Madrid como maior transação de um jogador Sub-20 até então na história. O garoto fez dois golaços, aos 32 e aos 40, e garantiu uma vitória daquelas de "lavar a alma", de epopeia, para deixar o clube, a torcida e o time respirando mais aliviados. Aqueles momentos de genialidade individual do garoto representaram o único momento de grandiosidade do futebol rubro-negro nos três primeiros meses de 2018.

Na semi-final da Taça Rio, um Fla-Flu com a vantagem do empate sendo do Fluminense. Um empate em 1 x 1, com uma atuação taticamente enfadonha, e o Fla foi eliminado. O campeão do 2º turno foi o Fluminense. Mas em termos de Campeonato Carioca, o exdrúxulo modelo de disputa adotado desde a edição anterior (2017) fazia com que tudo até aquele momento se resumisse a meros "amistosos de preparação". Os quatro melhores colocados se enfrentavam em semi-final: Flamengo x Botafogo, e Fluminense e Vasco. Com a melhor campanha na soma dos dois turnos, o time rubro-negro entrava em campo com a vantagem do empate diante dos botafoguenses, a quem já havia vencido duas vezes nos dois primeiros encontros do ano. Só que depois de toda a "série de amistosos", o treinador Paulo César Carpegiani mostrou falta de convicção com suas apostas. Ele havia chegado a uma formação titular com Diego Alves, Rodinei, Réver, Juan e Renê; Jonas, Lucas Paquetá, Diego e Everton; Everton Ribeiro e Henrique Dourado. Para o jogo que pela primeira vez realmente valia naquele famigerado campeonato, ele resolveu mexer quase em meio time e trocar quatro peças: tirou Rodinei, Juan, Renê e Everton Ribeiro, e lançou um time titular com Pará, Rhodolfo, Willian Arão e Vinícius Júnior. Além de que pela primeira vez no ano lançou a campo uma formação com dois cabeças de área jogando juntos (até ali vinha se preparando num 4-1-4-1).

O Flamengo perdeu por 1 x 0 para o Botafogo no Maracanã e acabou eliminado. Perdeu para um elenco que custava um terço do seu. O cenário desenhado de que o Flamengo mantinha um elenco muito mais forte do que os de seus rivais no Rio de Janeiro é que se desmanchava, e o planejamento rubro-negro de 2018 é que acabava em frangalhos. A fábrica de baldes de água fria enfim deixava visível seu produto final ao público.

Quatro anos de litígio político entre Flamengo e Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, e pelo terceiro ano a final do Campeonato Carioca era entre Vasco e Botafogo.

Após a derrota, o vice-presidente de futebol Ricardo Lomba fez duras críticas ao desempenho rubro-negro no início de 2018, o qual classificou como "inadmissível" e "uma vergonha". Era o indício de que a eliminação não seria aceita passivamente, e que mudanças radicais aconteceriam. No dia seguinte elas se consumaram, com a demissão de 6 profissionais: o diretor executivo de futebol Rodrigo Caetano, o gerente de futebol Mozer, o técnico Paulo César Carpegiagi e seu auxiliar-técnico e seu filho Rodrigo Carpegiani, o auxiliar-técnico permanente Jayme de Almeida, e o preparador-físico Marcelo Martorelli. Rodrigo Caetano estava havia pouco mais de 3 anos na função, que assumiu em dezembro de 2014. Era tido como um dos principais executivos de futebol em atividade no Brasil, mas as sucessivas contratações caras de jogadores não traduzidas em resultados (títulos expressivos) levaram a um desgaste e à conclusão de que era hora de renovação na função. Já o gerente Carlos Mozer, que chegou ao clube em junho de 2016 para assumir a "gestão do vestiário", assumindo atribuições mais operacionais e liberando Rodrigo Caetano para as atribuições efetivamente mais executivas - montagem de elenco, relação com empresários de jogadores e técnicos, além da co-responsabilidade na gestão de controle financeiro sobre o elenco de futebol - ficou pouco mais de um ano e meio na função. O ex-zagueiro de Flamengo, Benfica, Olimpique de Marselha e Seleção Brasileira tinha o perfil de liderança de quem usou a braçadeira de capitão diversas vezes nos times em que jogou. Após este um ano e meio no cargo, a principal crítica girava em torno do argumento de que ele não teria conseguido dar ao elenco um "brio vencedor". Carpegiani caía pelas escolhas equivocadas, e junto saíam seus auxiliares. Sem dúvida sob muita co-responsabilidade da Gestão Bandeira de Mello e sua confusa escolha após a saída de Reinaldo Rueda. Ele, Carpegiani, assumiria uma nova função de coordenador técnico, mas acabou virando técnico, meio à base do improviso, num processo infeliz já desde a coletiva na qual foi apresentado, sob um discurso confuso de implementação temporária, pois caso viesse a haver a efetivação de outro treinador, ele voltaria a assumir uma função de coordenador (confuso de explicar e confuso de entender, muito provavelmente porque a confusão havia já na cabeça de quem pensou esta estratégia). Por último, a demissão de Jayme de Almeida. Desde o desastroso episódio de sua demissão do cargo de técnico - em maio de 2014, após um início ruim do time no Brasileiro daquele ano - até sua volta ao clube na função de auxiliar-técnico permanente em abril de 2015, a impressão que se tinha dele na função na qual estava havia quase três anos (a qual ele também havia ocupado de 2010 a 2013) era de uma certa acomodação, executando-a burocratimente. Assim, entendeu-se que haveria a necessidade de uma mudança de perfil, buscando alguém capaz de sacudir motivacionalmente o elenco.

Por mais justificativas que existissem, as escolhas em torno dos treinadores continuava sendo o ponto mais desastroso da Gestão Bandeira de Mello. E já se havia tentado todas as estratégias possíveis desde sua chegada à Presidência do clube. O primeiro triênio de gestão começou com Dorival Júnior, herdado da gestão anterior. Por uma opção orçamentária e não fundamentada em quasitos técnicos e de desempenho, optou-se por trocar o treinador após os meses iniciais de Eduardo Bandeira de Mello na cadeira presidencial. Optou-se então por um treinador jovem e iniciante, e com raízes rubro-negras, o ex-lateral-direito Jorginho. Sangue novo, identificado com o clube e mais barato. Não deu certo e depois de muito pouco tempo ele foi trocado. Optou-se então por um teinador renomado, Mano Menezes, mas este acabou roendo a corda antes do fim do contrato. A opção então foi por Jayme de Almeida, um "treinador da casa", até então assitente-técnico permanente. O quarto nome do ano, a solução caseira, foi a que deu certo. Optou-se por sua continuidade para a temporada seguinte, mas na primeira instabilidade, ele foi demitido. Voltou-se a uma opção menos badalada, Ney Franco, que também não deu certo e também durou pouquíssimo no cargo. Mais uma vez então a escolha recaiu sobre um nome renomado, desta vez Vanderlei Luxemburgo, terceiro treinador de 2015. Ele e seus "carregadores de saco de cimento" contiveram a sangria e espantaram a crise. Mais uma vez deu-se continuidade no ano seguinte a quem terminava a temporada anterior. Ele aguentou bastante tempo no cargo, mas o desgaste levou a uma nova demissão. Voltou-se então a uma aposta num jovem iniciante - Cristóvão Borges - mas a experiência também foi rápida e infrutífera. Para fechar 2015, escolheu-se a experiência de Oswaldo de Oliveira. Também não deu certo, e antes do fim da temporada, caía o terceiro treinador rubro-negro daquele ano. Para 2016 então, pela primeira vez desde 2013, um novo técnico iniciava o trabalho desde o início da temporada. Mais uma vez a aposta foi um treinador renomado, Muricy Ramalho chegava à Gávea sob grande expectativa. Mas foi mais um a não conseguir terminar seu trabalho, desta vez por razões alheias à vontade do clube e sua gestão, e do próprio treinador. Novamente a aposta recaiu então sobre uma "solução caseira", o técnico do time sub-20, Zé Ricardo, assumiu o profissional. Mais uma vez, a "solução caseira" foi a mais frutífera. Zé Ricardo ficou mais de um ano no cargo. Mas o desgaste e a falta de experiência uma hora cobraram o preço, ainda mais perante expectativas de resultado tão altas. Após sua demissão, tentou-se uma escolha totalmente distanta das anteriores, o Flamengo tentou um estrangeiro, contratando o colombiano Reinaldo Rueda. Porém, mais uma vez a diretoria viu um treinador roer a corda e deixá-la na mão. Apostou-se então na "solução raiz" para substituí-lo, o técnico que deu o maior título da história do clube (ainda que havia quase 40 anos antes). A aposta era num nome com identidade enraizada na Gávea, porém Paulo César Carpegiani foi mais uma opção errada. Desde escolhas renomadas no mercado como Mano Menezes e Muricy Ramalho, passando por nomes que estavam em baixa e precisavam se reinventar, como Vanderlei Luxemburgo e Oswaldo de Oliveira, e por treinadores iniciantes como Jorginho e Cristóvão Borges, ou experientes como Ney Franco, ou soluções caseiras como Jayme de Almeida e Zé Ricardo, ou um estrangeiro como Reinaldo Rueda, ou um nome vitorioso dentro do clube como Carpegiani. A Gestão Bandeira de Mello havia tentado de tudo, e a taxa de sucesso estava baixa.


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