domingo, 10 de setembro de 2017

A Espanholização do Futebol Brasileiro

O futebol brasileiro está há muito tempo imerso numa Guerra Fria, silenciosa. Os paulistas precisam de tudo. É inconcebível para eles qualquer coisa maior do que eles! E o Flamengo é maior do que eles! Isto os enlouquece!

Eles inventaram os pontos corridos e esperavam que o poder do dinheiro iria repartir todos os títulos do futebol brasileiro entre eles. Não existia espanholização enquanto tudo rumava para uma concentração entre Corinthians e São Paulo. Aí o Flamengo entrou na pista de dança e as garotas olharam para ele... E o maior problema do futebol brasileiro passou a ser a espanholização. Bom, quando os paulistas pensaram neste formato, foram estratégicos: numa disputa assim, "mais justa", venceria quem tivesse mais dinheiro, assim concentrariam a divisão dos títulos entre eles, paulistas, no maior centro urbano da América do Sul. Os cariocas então, bagunçados e desleixados como são, nunca ganhariam neste formato, e nunca teriam ganho antes na história deste país um título brasileiro sequer se desde sempre tivesse sido assim.

Eu, particularmente, sempre gostei mais do modelo com play-offs. Mas confesso que jamais quis que mudasse de novo enquanto o Flamengo não conquistasse um título em pontos corridos para enfiar na guela deles. Ainda que vamos seguir ouvindo para sempre que foi "uma aberração" e foi "sem querer". Ainda gostaria, antes de ver o campeonato novamente em mata-mata e não em pontos corridos, se é que veremos um dia, ver o Flamengo ser bi ou tri-campeão brasileiro consecutivamente neste formato. Mesmo sabendo que aí o disco vá mudar e a choradeira será anti-espanholização. Lembro-me como se fosse hoje da turma da ESPN falando, com sorriso no rosto, em Lyonização quando o SPFC foi tri-campeão brasileiro em 2008 (o Lyon, para os que não se lembrem, foi 7 vezes seguidas campeão francês).


A luta contra a espanholização do futebol brasileiro é e seguirá sempre sendo árdua! Tomando os números dos últimos anos como referência, o top 4 do ranking de receitas no Brasil teve Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Flamengo. O Flamengo é o único no Brasil a fazer frente financeiramente aos paulistas, mantendo-se na luta contra a hegemonização. A luta rubro-negra é para se manter no bolo! Muita gente ignora este fato. Muitas opiniões na imprensa esportiva propositalmente o omitem. Quem aguentar vir, que venha junto!


Nenhuma novidade no fato do Estado de São Paulo ser o mais forte do Brasil, todos sabemos, todos sempre soubemos. Vejamos historicamente como esta força se dá perante a força dos demais estados. Criei um ranking para medir esta proporção, funcionando ao estilo de um "ranking de entradas" do tênis, que nada mais é de certa forma que uma média móvel. Analiso abaixo o desempenho no tempo de 5 em 5 edições, deslocando-se no tempo, que por isto vou chamar de "R-5", porque será sempre a média dos cinco anos imediatamente anteriores.

A pontuação será simples também. Pontuarão sempre do 1º ao 20º colocado, de forma que o 1º faz 10 pontos, o 2º faz 9,5 e assim por diante, reduzindo sempre 0,5 ponto, até chegar à pontuação do 20º, que fará apenas 0,5 pontos. A pontuação por estado será a soma dos clubes por UF. E a pontuação por ano, a média de pontos feitos nas cinco edições anteriores do Campeonato Brasileiro.

Exemplo: Rio de Janeiro tem 18,1 pontos em 2016. É a média da pontuação do estado de 2012 a 2016, cinco últimas edições do Brasileirão (em 2015 é a média de 2011 a 2015). Em 2012, o Fluminense foi 1º lugar, fazendo 10 pontos, o Vasco em 5º fez 8 pontos, o Botafogo em 7º lugar fez 7 pontos, e o Flamengo em 11º fez 5 pontos. A soma do Rio de Janeiro em 2012 foi de 30 pontos. Em 2013, Botafogo em 4º fez 8,5 pts, Fluminnse em 15º fez 3 pts, Flamengo em 16º fez 2,5 pts e Vasco em 18º fez 1,5 pts, o Rio de Janeiro em 2013 somou 15,5 pontos. Em 2014, Fluminense em 6º fez 7,5 pts, Flamengo em 10º fez 5,5 pts, Botafogo em 19º fez 1 ponto e o Vasco na Série B não pontuou, o Rio de Janeiro em 2014 somou 14 pontos. Em 2015, Flamengo em 12º fez 4,5 pts, Fluminense em 13º fez 4 pts, Vasco em 18º fez 1,5 pts e o Botafogo na Série B não pontuou, o Rio de Janeiro em 2015 somou 10 pontos. Em 2016, Flamengo em 3º fez 9 pts, Botafogo em 5º fez 8 pts, Fluminense em 13º fez 4 pts e o Vasco na Série B não pontuou, o Rio de Janeiro em 2016 somou 21 pontos. Tendo o Rio feito 30; 15,5; 14; 10; e 21 pontos nestes cinco anos, temos a soma igual a 90,5 e dividindo por 5 chega-se a 18,1 pontos de média, que é a pontuação do RJ em 2016.

Graficamente, o resultado por estado é o que se vê abaixo. Retrata o que de certa forma não é nenhuma novidade para ninguém: São Paulo em 1º, Rio de Janeiro em 2º, Rio Grande do Sul e Minas Gerais se alternando entre 3º e 4º, e o Paraná em 5º. O que surpreende é a dança destas curvas no tempo, por mostrar a diferença de São Paulo, estado mais rico e com mais clubes na Série A, frente aos demais, e os altos e baixos do Rio de Janeiro.


O domínio é todo paulista. Mas este domínio já foi bem maior. Se em 2016 a pontuação paulista é de 30,7 pontos contra 18,1 do Rio de Janeiro, em 2002, antes da criação do modelo de Campeonato Brasileiro por pontos corridos, SP tinha 39,7 pontos contra 15,1 pontos do RJ. O pico histórico da pontuação paulista foi em 1994 (desempenho médio de 1990 a 1994 portanto) quando tinha 48,7 pontos.

Quem está prestando atenção pode indagar então: os pontos corridos diminuíram a concentração então? Os paulistas perderam força? Não, o interior de São Paulo perdeu força. A pontuação de SP caiu porque a quantidade de clubes paulistas na Série A diminuiu.

Se pegarmos a média apenas de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, a pontuação dos quatro em 2016 indicava 26,6 pontos, mais do que os 23,5 pontos que tinham em 2002. Em 2008, antes do Flamengo ser campeão brasileiro, chegaram a estar com 28,3 pontos. Ou seja, a concentração de poder no G-4 paulista está com um viés de alta no tempo.

A participação de clubes paulistas nas Séries A e B vem diminuindo, mas o poder dos clubes mais ricos do Estado de São Paulo só cresce.

O quadro abaixo mostra, em anos selecionados, a distribuição da quantidades de clubes por região geográfica do Brasil que disputaram as Séries A e B desde 2002. São mostrados também os dados de SP, que está contido nos números da Região Sudeste.


O que se nota é a redução da quantidade de paulistas, o que significa, na verdade, a redução de clubes do interior de São Paulo nas séries A e B, com seus lugares passando a ser ocupado por clubes da Região Sul, a segunda economicamente mais rica do país. A situação das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste tem muito pouca variação.



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