terça-feira, 15 de setembro de 2015

Por quem os sinos tocam? - Parte II

A revolução prometida buscava atacar várias frentes, reinventar certas ordens, criar novos rumos, fazer diferente, e em diversificadas frentes, internas e externas. O capítulo "Por quem os sinos tocam?" deixou perguntas no ar: os sinos tocavam pela situação, pela oposição, por Eurico Miranda, pela Federação? A vida não é um conto de fadas, e ao final a conclusão sempre é: os sinos tocam por todos. Ninguém nunca sai ileso no final. Mas certamente alguns mais e outros menos.

A atitude da diretoria do Flamengo no embate com a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) durante o Campeonato Carioca de 2015 foi perfeita: manteve-se na disputa, driblou o embate com factoides na imprensa, do tipo que gera ameaças de paralisação do campeonato; jogou a questão para a edição seguinte de 2016. Foi uma jogada de mestre, preservando a imagem do clube e dos seus parceiros, evitando um embate problemático e prejudicial com a detentora dos direitos de transmissão da competição. Evitou o alarde, mas o tempo mostrou que não se omitiu, não era birra ou covardia, era estratégia.

Mas os sinos tocaram na política interna do clube de forma irremediável. O episódio gerou sim uma divisão efetiva da Gestão Azul, culminando no lançamento de duas chapas à presidência do clube para a gestão 2016-2018. De um lado, Eduardo Bandeira de Mello, Flávio Godinho e Cláudio Pracownik, do outro, Wallim Vasconcelos, Rodolfo Landim, Luiz Eduardo Baptista (BAP), Rodrigo Tostes e Carlos Langoni. Os sinos tocaram para a política interna do clube, com desdobramentos marcantes e que, mesmo que em algum momento houvesse reaproximação, eram irreversíveis. A marca da ruptura não poderia mais ser apagada.

Marcas ainda mais intensas no ambiente político da FERJ. Flamengo e Fluminense se afastaram completamente, e foram enfáticos em sua decisão conjunta, estavam decididos a jogar o Carioca 2016 com uma equipe Sub-23. Só jogariam, porque caso não o fizessem, as regras da CBF, com respaldo da FIFA, levariam ambos à excomunhão (exclusão do quadro de filiados). A escolha foi por não haver mais a opção diálogo. O presidente Rubens Lopes, tendo ao presidente do Vasco, Eurico Miranda, como fiel escudeiro, não tinha outra estratégia que não ameaçar a dupla Fla-Flu com "as mais pesadas sanções previstas no estatuto". Uma reprise de um filme já passado nos Anos 1990 quando o presidente da federação era Eduardo Vianna, o Caixa D'Água. Vasco e Botafogo, ao lado dos 12 pequenos inscritos para o Carioca de 2016, espumavam de raiva.

Por quem os sinos estavam tocando? A estratégia da FERJ iniciada em 2014 e consolidada em 2015, era de atacar as receitas do Flamengo e abocanhar para ela parte dos recursos. O Flamengo sustentava a turma toda. Em 2014 a FERJ extraiu parte dos repasses de TV para dá-lo ao campeão, que naquele ano como foi o próprio Flamengo, voltou para a Gávea. Já em 2015 a intervenção foi sobre o preço dos ingressos, medida que prejudicava os programas de Sócio-Torcedor de Fla e Flu, e o agora privatizado Consórcio Maracanã. Minava ainda os recursos de bilheteria de Fla e Flu, sem maiores consequências para a política praticada pelo Vasco em São Januário e pelo Botafogo no Engenhão. Numa conjuntura de um campeonato com Fla-Flu Sub-23 todos perderiam, e muito! Ainda mais os pequenos. E logicamente também a federação.

Por quem os sinos tinham tocado? Sim, para todos. Mas certamente para uns mais e para outros menos. A própria situação de Vasco e Botafogo dizia por si só. O Botafogo na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. O Vasco recém voltara da Segunda Divisão, passou praticamente todo o Brasileiro 2015 em último lugar e o rebaixamente representaria a terceira queda para a Série B num intervalo de apenas oito anos (rebaixamentos em 2008, 2013 e 2015). Sem estratégia própria de aumento de suas receitas, a opção foi atacar receitas alheias. O tiro saiu pela culatra.

Durante o Carioca 2015, a estratégia foi empurrada para 2016 para que se ganhasse tempo na busca de alternativas e não se perdesse tempo numa luta infrutífera de factoides via imprensa. A dupla Fla-Flu se aproximou de clubes de outros estados e nasceu um novo conceito, a Liga Sul-Minas-Rio. Foram várias reuniões até que se chegasse à proposta final. Em 10 de setembro de 2015, na sede do Flamengo, na Gávea, foi oficialmente fundada a liga, com 13 membros: Grêmio, Internacional, Coritiba, Atlético Paranaense, Figueirense, Criciúma, Avaí, Joinville, Chapecoense, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Flamengo e Fluminense. O objetivo era ter um campeonato com 10 equipes já em 2016.

A decisão foi uma bomba. O primeiro grito de desespero, via imprensa, foi o anúncio anônimo - já que cada notícia indicava uma fonte diferente - da tentativa de criação em 2016 de um Torneio Rio-São Paulo, reunindo paulistas, Vasco e Botafogo. Curioso é que em nenhum momento houve qualquer manifestação dos clubes de São Paulo a favor disto. Foi um grito de desesperados. Obviamente a idéia naufragou muito rápido. Os sinos haviam tocado muito além do que se imaginava. Obviamente a questão atingia também à Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão. Todos sabiam que uma hora chegaria nela, mas lhe oferecendo um produto mais rentável, era mera questão de negociação. Agora a questão atingia também à CBF, que era a única que tinha poder político para impedir o torneio de acontecer. A questão é que os envolvidos na Nova Liga representavam 50% dos participantes da Série A; não lhe era conveniente mais a imposição, nem sob a pressão das Federações Estaduais, agora só lhe era conveniente a negociação.

Por quem os sinos tinham tocado? Muita coisa já estava mais clara agora. Restava aguardar o avanço das negociações e entender quais de fato tinham sido as consequências. Era preciso se dar ainda mais tempo ao tempo para se saber. Mas eles estavam tocando cada vez mais fortes. Cada vez mais gente estava escutando!

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